Vivemos tempos de grande confusão

A inflação que financiamos


Vivemos tempos de grande confusão ao tentar entender como funciona o motor da economia brasileira

 

11/02/2011 - Lourenço Prado*

Temos os juros reais mais altos do mundo, uma moeda forte e valorizada em relação ao dólar. Cenário que qualquer um apontaria como privilegiado, garantidor de concorrência com o mercado internacional e com capacidade de manter longe o fantasma da inflação.

No entanto, não é isso o que estamos percebendo nos bolsos. Relatório Focus, do Banco Central, divulgado em 7 de fevereiro, mostra que o mercado elevou a estimativa de inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2011 para 5,66%, ante 5,64% na semana anterior. Já a Taxa Selic? Ah! Esta aí deve atingir os 12,50%, até dezembro.

Ou seja, nem mesmo o absurdo aumento da taxa de juros, que costuma resfriar nossa economia, somada à redução de crédito acima de 24 parcelas com ameaças diretas à geração de empregos, conseguirá derrubar a inflação que chega subtraindo renda e ganhos salariais que os trabalhadores conseguiram negociar no ano passado.

Segundo o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, 97% das 290 negociações concluídas nos primeiros seis meses de 2010 resultaram em ganhos salariais iguais ou acima da inflação.

Se analisadas apenas as negociações que resultaram em ganhos salariais reais (descontada a inflação), o resultado atingido no primeiro semestre de 2010 foi melhor dos últimos dois anos. No ano passado, 87,9% (255 negociações) das campanhas resultaram em aumentos acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Então, qual a origem dessa inflação corrosiva? Economistas afirmam que a atual inflação brasileira surge com o aumento dos alimentos. Estes, por sua vez, subiram muito nos últimos tempos devido à alta internacional dos preços agrícolas, com ênfase nas carnes, cereais, grãos e açúcar.

O mais curioso é que são esses mesmos produtos que fazem com que o Brasil tenha destaque no ranking do comércio internacional.

Entre 2000 a 2010, as exportações totais brasileiras pularam de uma média de 57,9 bilhões de dólares no início do período para 200 bilhões no final. No mesmo tempo houve um forte aumento de participação dos produtos primários – de 44% da pauta de exportações (2000/2002) para cerca de 60% em 2010, considerados neste cálculo produtos básicos e semi-manufaturados.

Daí nos perguntamos: se estamos entre os grande exportadores desses produtos porque temos preços tão altos nas prateleiras dos supermercados? A resposta é muito simples: Os preços são puxados para cima pelos importadores destes produtos agrícolas.

Os produtores agrícolas brasileiros -- subsidiados até à alma pelo Banco do Brasil, ou seja com dinheiro público - têm plena liberdade de estabelecer os preços de seus produtos. E o fazem, claro, a partir dos preços que conseguem na hora da exportação.

E o pior, por não haver uma política séria por parte do governo, os grandes empresários do mundo agrícola mantêm aqui, no mercado interno, o mesmo preço praticado nas exportações.

Resultado: nós pagamos o pato duas vezes. O Brasil investe em subsídios agrícolas para se manter competitivo no mercado internacional. Mas os produtores agrícolas, em atuação típica dos escorpiões, decidem cobrar dos consumidores brasileiros os mesmos preços que conseguem lá fora. E o governo? Ah! O governo não intervém nos preços internos e apenas contabilizam no PIB o que se fatura nas exportações.

Ou seja, os grandes produtores rurais e frigoríficos ficam com os lucros imensos e nós, cidadãos e trabalhadores, amargamos a conta da inflação.

Também sobra para os trabalhadores a conta da inflação, que significa transferência de renda para os grupos que se protegem. Os grandes produtores agrícolas se protegem e ampliam seus ganhos estabelecendo preços com parâmetros internacionais, impunemente. E a temida inflação? Esta vai devagar crescendo como fermento de pão.

A prática de segurar os juros e, manter o câmbio em equilíbrio, não são suficientes

para espantar o mal inflacionário. Se de fato, é uma preocupação manter o fantasma da inflação longe do sonho de real desenvolvimento brasileiro, é necessário que o governo se posicione diferente. Aplique regras que segurem a alta dos produtos com políticas públicas de interesse do cidadão-consumidor.

 

* Lourenço Prado - Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito


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